segunda-feira, 5 de julho de 2010

(OUTROS RECURSOS) Livros, Filmes e Vídeos indicados

LIVROS

LIVRO: LAMPIÃO NA BAHIA
AUTOR: OLEONE COELHO FONTES

LIVRO: DERROCADA DO CANGAÇO
AUTOR: FELIPE DE CASTRO

LIVRO: NO TEMPO DE LAMPIÃO
AUTOR: LEONARDO MOTA


FILMES

FILME: BAILE PERFUMADO (1997)
DIREÇÃO: PAULO CALDAS E LÍRIO FERREIRA

FILME: O CANGACEIRO (1953)
DIREÇÃO: LIMA BARRETO


VÍDEOS DO YOUTUBE

ENDEREÇOS

http://www.youtube.com/watch?v=3CEEk95Tl1M (A História do Rei do Cangaço Lampião)

http://www.youtube.com/watch?v=nQrYu-Gy9SQ&feature=related (Causos de Luiz Gonzaga)

http://www.youtube.com/watch?v=QgzDrZ68PbM (Trabalho de història 7ª B Portinari- Cangaço & Coronelismo)


(AULA VIII) Resquícios do Cangaço na Bahia

O que sobrou do Cangaço

por Matheus Ferreira

Com o fim de um período que denominamos Cangaço, talvez nos venha a cabeça a seguinte pergunta: - O que sobrou do Cangaço nos dias atuais?- se analizar-mos com atenção, percebemos que muito da cultura de um povo que vive a margem do Brasil,se faz presente até os dias atuais, especificamente se tratando de Bahia, percebo nas ruas, que as antiguíssimas alpercatas de couro, apesar das suas adaptações, ainda atrai a atenção de muita gente, vindo até mesmo a ser lembrada na música de um grande compositor baiano, Jau Peri e sua música "Sandália de Couro". Não apenas no modo de vestir, também na forma de se comportar, o povo conheceu um nordestino valente que apesar das imensas dificuldades enfrentadas se adequa, e se supera para sobreviver, e mesmo sendo alvo de constantes piadinhas preconceituosas não se deixam abater, levando o orgulho de ser nordestino. E vemos o retrato do cangaço nas músicas cantadas por Luiz Gonzaga, não precisa escutar apenas as suas músicas, é só olhar a sua vestimenta (os detalhes em couro, o chapéu meia lua), divulgador do xaxado, ritmo tocado e dançado por Lampião e seus cabras por quase todos os cantos do Nordeste, e no meio de tanta violência e arbitrariedade o Rei do Cangaço tinha tempo até para compor, quem nunca ouviu:

"Olê mulé,rendera
Olê mulé, rendá
Tu me ensina a fazer renda
Eu te ensino a namorar"

Sobrou muito do cangaço, muito do mais do que imaginamos, que diga os pesquisadores, historiadores e curiosos por natureza, que se deixam levar por um tema tão envolvente e viciante chamado CANGAÇO.


(AULA VII) Coronelismo e Cangaço

Coronéis



CORONEL – A designação de coronel veio do Império, quando os grandes proprietários de terras e outros bens – para solidificar seu poderio - adquiriam comprando esse título da Guarda Nacional.
A Guarda Nacional foi criada pela lei de 18 de agosto de 1831, pelo então padre Diogo Antonio Feijó, para garantir a ordem pública, defender a Constituição, a independência, a liberdade e a integridade nacional. Esta lei substituía as antigas Companhias de Ordenações e as Milícias de Guardas Municipais, cujas foram suprimidas em 20 de dezembro do mesmo ano.
Os coronéis indicavam – por força de eleições profundamente suspeitas - os prefeitos (intendentes) das cidades ou assumiam eles próprios, arregimentavam em suas propriedades dezenas de pistoleiros – jagunços – para eliminarem quem não lesse na mesma cartilha política ou discordasse de seus interesses. Quando um coronel admitia um morador em sua propriedade não era necessário contratar-lhe os “serviços” do mesmo para ser jagunço ou pistoleiro. O fato de estar com tal coronel significava que era também um protetor armado desse mandatário. Essa atividade era inseparável da de morador ou agregado. Se houvesse mais de um coronel na cidade, mandava mais aquele que tinha mais pistoleiros, mais armas e maior disposição de brigar. No dia das eleições, seus cabos eleitorais entregavam a cédula em envelope fechado e preenchido aos eleitores e acompanhavam até o local das votações para ver se colocavam nas urnas. Era comum o voto do defunto. Muitas vezes se votava em dois municípios : de manhã em um e a tarde em outro, para o “patrão” ajudar ao “compadre” correligionário. Tudo isto era o chamado “voto de cabresto”, que ainda existe, com modificações, nos dias atuais, nos sertões.
Alguns pesquisadores chegam a dizer que Lampião fez pacto com coronéis. Isto é erro de leitura do contexto social da época. Na verdade alguns coronéis se encolheram, dobraram a espinha nos pactos, debaixo das ordens e poder de fogo do Rei do Cangaço.
Segue os principais coronéis do tempo de Lampião – uns se dobraram e outros resistiram ao seu julgo:


De Pernambuco:

Vila Bela (atual Serra Talhada) – Antonio Pereira, padre José Kehrle, Antonio Alves do Exu e Cornélio Soares. Floresta – Antonio Serafim de Souza Ferraz (Antonio Boiadeiro). Belém – Manuel Caribe (Né Caribe). Tacaratu, Jatobá e Espírito Santo – Ângelo Gomes de Lima (Anjo da Jia). Flores – José Medeiros de Siqueira Campos, que se revezava com o Major Saturnino Bezerra, este do distrito de Carnaíba. Triunfo – Deodato Monteiro, Lucas Donato. Afogados da Ingazeira – Elpídio Padilha. Custódia – Capitão da Ribeira de Contindiba e Ernesto Queiroz. Moxotó – Antonio Guilherme Dias Lins. Buíque – Antonio Cavalcanti. Pedra – Francisco de França (Chico de França). Rio Branco (Arcoverde) – Delmiro Freire. Águas Belas – Constantino Rodrigues Lins. Cabrobó – Antonio André e Epaminondas Gomes. Salgueiro - Veremundo Soares. Belmonte – Luiz Gonzaga Ferras. Bom Conselho do Papacaça - José Abílio de Albuquerque Ávila e Francisco Martins. Leopoldina (Parnamirim) – Antonio Angelino. Serrinha (Serrita) – Frâncico Figueira Sampaio (Chico Romão). Petrolina – João Barracão e família Coelho.


Da Paraíba:
Princesa – José Pereira Lima. Conceição – Jaime Pinto Ramalho. Misericórdia (Itaporanga) – José Bruneto Ramalho e a família Nitão. Piancó – Felizardo e Tiburtino Leite. Cajazeiras – Famílias Rolim e Cartaxo. Alagoa do Monteiro – Augusto Santa Cruz.


De Alagoas:
Água Branca – Ulisses Luna (Ulisses da Cobra). Santana do Ipanema – Manuel Rodrigues. Mata Grande – Juca Ribeiro, família Malta. Pão de Açúcar – Joaquim Resende, Augusto Machado e Elísio Maia.


Do Ceará:
Missão Velha – Isaías Arruda. Porteiras – Raimundo Cardoso. Milagres – Domingos Furtado. Barbalha – Mousinho Cardoso. Aurora – Família dos Paulinos. Juazeiro – Padre Cícero e Floro Bartolomeu. Bravo – José Ignácio. Lavras da Mangabeira – Raimundo Cardoso. Jardim – Coronel Dudé. Brejo Santo - Antonio Teixeira Leite (Antonio da Piçarra).


De Sergipe:
Francisco Porfírio de Brito, João Ribeiro, Antonio de Carvalho (Antonio Caixeiro) e Eronildes de Carvalho.


Da Bahia:
Glória – Petronilo de Alcântara Reis (Coronel Petros). Jeremoabo – Saturnino Nilo.

Do Rio Grande do Norte:
Mossoró - Coronel Antonio Gurgel e Rodolfo Fernandes.


CANGACEIROS – Os cangaceiros viveram no nordeste por aproximadamente setenta anos. De 1870 até 1940, com seus ícones: José Gomes (Cabeleira), Lucas Evangelista (Lucas da Feira), Jesuíno Alves de Melo Calado (Jesuíno Brilhante), Adolfo Meia Noite, Manoel Batista de Moraes (Antonio Silvino), Sebastião Pereira da Silva (Sinhô Pereira), Virgolino Ferreira da Silva (Lampião) e Cristino Gomes da Silva Cleto (Corisco). Viviam em grupos, saqueando cidades, vilas e fazendas, enfrentando o poderio dos coronéis e fazendeiros, desafiando a polícia e todo aparato do Estado. A palavra vem de canga, peça de madeira que prende os bois ao carro. Os cangaceiros carregavam a arma sobre os ombros, lembrando uma canga. Quem se sentisse injustiçado, sempre procurava um meio de torna-se um cangaceiro. No cangaço o ganho era bastante superior ao de qualquer outra profissão estabelecida. Além do dinheiro e jóias, frutos dos saques, tinham fama, liberdade e respeito da população, admiração das mulheres, simpatia das pessoas e rompimento com a submissão dos donos do poder. No cangaço havia respostas urgentes para as necessidades materiais dos mais pobres.

Alguns tipos de cangaceiros:

O meio de vida: Que agiam por profissão.
O Vingança: Por ética.
O Refúgio: Por defesa.

O fim do cangaço é dado com a morte de Corisco, em 1940.
Os mais destacados chefes de cangaceiros do tempo de Lampião que agiram com ele em diversos momentos, foram: Virginio (Moderno), Sabino Gomes, Luiz Pedro, Antonio de Ingrácia, Cirilo de Ingrácia, Sinhô Pereira, Antonio Rosa, Cassemiro Honório, Antonio Matilde, Azulão, Gato (de Inacinha), Zé Sereno (José Ribeiro), Pancada, Chico Pereira, Curisco, Zé Baiano, Labareda (Ângelo Roque), Massilon Leite, Sabino das Abóboras, Jararaca (José Leite), Antonio Rosa, Balão, Meia Noite, Tubiba, Bom Deveras e Baliza.

EM TEMPO: Para conhecer mais sobre LAMPIÃO, leia o livro LAMPIÃO. NEM HERÓI NEM BANDIDO. A HISTÓRIA, de Anildomá Willans de Souza.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://www.cabrasdelampiao.com.br/coro.php

(AULA VI) Principais personagens


MARIA GOMES DE OLIVEIRA - MARIA BONITA


Maria Bonita

Nascida no sítio Malhada da Caiçara, do município de Paulo Afonso, na época município gloriense, na Bahia.


Depois de um casamento frustrado, em 1929 tornou-se a mulher de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, conhecido como o "Rei do Cangaço". Continuou morando na fazenda dos pais, mas um ano depois foi chamada por Lampião para fazer efetivamente parte do bando de cangaceiros, com quem viveria por longos oito anos.

Com o cangaceiro, Maria Bonita teve uma filha de nome Expedita e Ananias Gomes de Oliveira, assim como nasceram mais dois filhos, sendo natimortos. Morreu em 28 de julho de 1938, quando foi degolada ainda viva pela polícia armada oficial (conhecida como "volante"), assim como Lampião e outros nove cangaceiros.



Virgulino Ferreira da Silva

Vulgo Lampião (Serra Talhada, 7 de julho de 1898 — Poço Redondo, 28 de julho de 1938), foi um cangaceiro brasileiro. O seu nascimento, porém, só foi registrado no dia 7 de agosto de 1900.

Uma das versões a respeito de sua alcunha é que ele modificou um fuzil, possibilitando-o a atirar mais rápido, sendo que sua luz lhe dava a aparência de um lampião.


Foi o terceiro filho de José Pereira do Santos e de Maria Lopes da Conceição. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália.

Lampião teve uma infância comum a todos os meninos de uma baixa classe média sertaneja: aprendeu a ler e a escrever, mas logo foi ajudar o pai, pastoreando seu gado. Trabalhou também com seu pai como almocreve - pessoa que transportava mercadorias a longa distância no lombo de burros. Quando adolescente, acompanhado por seus irmãos Levino e Antônio, envolveu-se em crimes por questões familiares. Na época de adolescentes, ele e seus dois irmãos, Levino e Antônio já tinham fama de valentões, andavam armados e gostavam de arrumar confusão nas feiras livres para impressionar as moças. Também tinham o costume de pedir dinheiro por onde passavam.

Seu pai era um homem tranquilo e pacífico. Após várias tentativas que procuravam finalizar a rixa (por questões de disputa de terras e demarcação de divisas entre propriedades rurais) existente contra a família do seu vizinho José Saturnino, acabou sendo morto pelo delegado de polícia Amarílio Batista e pelo Tenente José Lucena, quando o destacamento procurava por Virgulino, Levino e Antônio, seus filhos.

No ano de 1920, com o objetivo de vingar a morte do pai, Lampião alistou-se na tropa do cangaceiro Sebastião Pereira, também conhecido como Sinhô Pereira.

Corisco


Corisco era o apelido do cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto (10 de agosto de 1907, Alagoas - 25 de maio de 1940, Bahia). Foi casado com Sérgia Ribeiro da Silva, alcunha de "Dadá". Corisco era também conhecido como Diabo Louro.


Em 1924, Corisco foi convocado pelo Exército Brasileiro para cumprir o serviço militar. Desertou em seguida, no ano de 1926, e tomou a decisão de aliar-se ao bando do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, apelidado Lampião. Corisco era conhecido por sua beleza, seu porte físico atlético e cabelos longos deixavam-o com uma aparência agradável, além da força física muito grande, por estes motivos foi apelidado de Diabo Louro quando entrou no bando de Lampião.

Corisco sequestrou Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, quando ela tinha apenas treze anos. Usou da força bruta para que com ele a moça permanecesse, e mais tarde o ódio passou a ser um grande afeto. Corisco ensinou Dadá a ler, escrever e usar armas. Corisco permaneceu com ela até no dia de sua morte. Os dois tiveram sete filhos, mas apenas três deles sobreviveram.

Desentendimentos com o chefe Lampião levaram Corisco a separar-se do bando e a formar seu próprio grupo de cangaceiros, mas isso não afetou muito o relacionamento amigável entre ambos.

Em meados do ano de 1938 a polícia alagoana matou e degolou onze cangaceiros que se encontravam acampados na fazenda Angico, no estado de Sergipe; entre eles encontravam-se Lampião e Maria Bonita. Corisco, ao receber essa notícia, vingou-se furiosamente.

José Osório de Farias


O afamado ZÉ RUFINO, conheceu LAMPIÃO- Rei do cangaço quando ainda era um sanfoneiro, percorrendo o sertão brabo das ribeiras do Pajéu e adjacências, no sertão de Pernambuco, estado onde nasceu.
O primeiro encontro entre os dois valentes sertanejos deu-se nas terras do município de Salgueiro. ZÉ RUFINO tocava numa festa de casamento e LAMPIÃO era um dos convidados, a empatia do chefe dos cangaceiros com o sanfoneiro foi imediata. LAMPIÃO convidou ZÉ RUFINO para ingressar no bando. Com muita habilidade o futuro matador de cangaceiros disse que não podia acompanhar o grupo, pois sua mãe já era idosa e como "arrimo" de família tinha os irmãos para criar, além de tudo não gostava de armas, o capitão o desculpasse, mas não tinha nascido para aquela vida.
Passado algum tempo, aconteceu um novo encontro com o rei do cangaço, mais uma vez LAMPIÃO convidou ZÉ RUFINO para acompanhá-lo. Com medo de negar novamente um pedido do Capitão, disse ao rei do cangaço que antes precisaria solucionar alguns problemas familiares; como iria deixar sua mãe e seus irmãos? Tinha que resolver essas questões.
LAMPIÃO o liberou, entretanto marcou uma data para sua apresentação e dessa vez não aceitaria desculpas.
ZÉ RUFINO agora tinha que se decidir, ,ou entraria no cangaço para acompanhar aquelas verdadeiras feras humanas ou iria se apresentar como soldado na volante, o que pouco diferenciava de um cangaceiro, como sanfonciro não poderia mais ficar.
LAMPIÃO não o perdoaria.
A decisão foi difícil, mas ZÉ RUFINO optou por entrar na polícia, seu destino agora seria perseguir cangaceiros.
ZÉ RUFINO foi um dos mais temidos perseguidor de cangaceiros, chegou rapidamente ao oficialato, alcançando a posição de Coronel da Policia Militar da Bahia.
Consta na literatura sobre o cangaço cerca de vinte e duas mortes feitas pela volante comandada por ZÉ RUFINO. Sua volante ficou famosa no sertão por cortar as cabeças dos cangaceiros mortos em combate. Sua façanha mais conhecida foi à morte do cangaceiro Corisco o "Diabo Louro", um dos mais famosos cangaceiros que se tem noticia. Marcando definitivamente ente o fim do cangaço.
O Coronel ZÉ RUFINO, combateu na volante baiana até o extermínio do cangaço. Terminada a campanha contra o banditismo, “comprou algumas fazendas na região de Geremoabo” no estado da Bahia, aonde já idoso veio a falecer.


Manoel Neto



Magro, alto, elegante, todo vestido de azul-celeste, lá está o coronel Mané Neto.

Se não fosse aquele Taurus 38, cano médio, na cintura, ele poderia ser definido como um velhinho simpático e indefeso.

Indefeso, jamais: quando me aproximei dele, um tanto bruscamente, brecando o caro a poucos metro a mão (fina, delicada) do coronel ameaçou puxar o Taurus da cartucheira. Mas um grito...

– “É jornal, coronel! e do jornal!”

guardou os reflexos do coronel para outra ocasião. Mas ele ainda desconfiou:

- Abra a porta do carro, meu filho. Vamos, desça, venha cá. Devagar.

A voz é pausada suavissima e quase uma sonata. Vamos manter o simpático na definição do coronel. Ou melhor: vamos chamá-lo de encantador. Mesmo quando ele, escudando-se em desculpas gentilíssimas, diz que não vai falar de homens sangrados, cabeças cortadas, atrocidades de um modo em gera.l Não ele não vai falar de jeito nenhum sobre a fama dele: o mais feroz e destemido caçador de cangaceiros de que já se ouviu falar. A opinião - de ex-cangaceiros e policiais da época - é unânime. O próprio Lampião dizia dele:

“Se os macacos vier sem Mané Neto é como se não fosse nada”

Ou:

“Se Mané Neto chegou procurem salvar metade da vida que a outra já foi”.

Os cangaceiros sobreviventes chegam a fazer caretas quando se toca no nome desta gentil criatura. Segundo eles, Mané Neto jamais poupou a população civil que, supostamente não lhe queria dar a direção de Lampião. Os colegas de Mané Neto elogiam a sua bravura, sem cair em detalhes.

...Então, a gente fica sem jeito acreditar que uma pessoa tão delicada, um velhinho de conversa agradável (ele deve estar com uns 60 e tantos anos) como este coronel azul-celeste, tenha um passado tão sanguinário. Uma coisa é verdade: aquele conjunto azul elegante cobre as marcas de mais de trinta balas. Daí o Taurus e o reflexo extraordinário para sua idade. Mas por que tantas balas? Não se pode dizer que as brigadas na caatinga, entre policia e cangaceiro, pelo menos na primeira fase, até 1928, tenham primado por geniais esquemas táticos. Era um grupo na frente do outro, atirando e claro que, de vez em quando, um grupo ou outro armava um esquema de pegar o inimigo pela retaguarda. Mas será que essa obviedade pode ser chamada de tática? Muitas das 30 balas do coronel (Tenente, na época) Mané Neto foram recebidas pelo fato de ele não suportar ficar agachado, atirando. Era do tipo que se levantava, de peito aberto, para xingar os inimigos com os mais tradicionais palavrões.

E tome bala.

A guerra entre policia e cangaceiro tinha disso. Geralmente era o cangaceiro que se expunha, de pé, para perguntar:

- Com quem luto?

- Com Mané Neto, (um exemplo),

- Então vai ser um arrocho!

E tome bala.

Esses estranhos diálogos entre inimigos chegou a certos requintes quando, em 1926, o então Tenente Higino atacou um grupo usando pela primeira vez uma metralhadora. Os cangaceiros depois do susto gritavam:

- Nêgo safado (Higino era um tipo escuro acaboclado)

- passe essa costureira pra cá!

- Venha buscar seu filho de uma....

O coronel Mané Neto não quer falar do passado. Nem aceita convites para fazer conferencias em escolas militares. Parece que o passado lhe dói muito. Ele tem uma fazendinha em Ibimirim, no sertão pernambucano, um jipe velho, quer o resto da vida em paz. Mesmo assim, o suave o coronel reforça uma observação do jornalista pernambucano Fernando Menezes, quando se mostra muito irritado com os caminhões de carga.

O jornalista observara que os caminhões que passam pelo sertão são os novos cangaceiros. Insinuantes, piscando mil luzes, enfeitados de todas as cores, dirigidos por um príncipe que conhece a fala das outras terras e gentes, os caminhões excitam e atraem as mulheres sertanejas. Aquela atração que o cangaceiros de cabelos longos, cheio de metais cintilantes e histórias heróicas, usavam para conquistar as Marias Bonitas da época.

- Esses caminhões...

(diz o coronel com um toque sutil de irritação na voz )

- são umas desgraças. já levaram umas dez garçonetes daqui!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Manoel%20Neto


domingo, 4 de julho de 2010

(AULA V) Relatos - Lampião na Bahia

O confrade Rubens Antonio membro da comunidade do Orkut Cangaço, Discussão Técnica nos brinda com este excelente material fruto de depoimentos colhidos com moradores da cidade de Itúba/BA como muitos já conhecem uma das cidades que fez o rei do cangaço desistir de sua temida visita.

Depoimento de Robério Pinto de Azerêdo,
de Itiúba:


Em Dezembro de 1929, Lampião chegou até a Fazenda Desterro, na margem esquerda do Rio Jacurici, Município de Monte Santo, ao lado norte de Itiúba. Ele se aproximou no tanque para dar água aos animais e encontrou um vaqueiro do Capitão Aristides conhecido Zezinho do Licurí Torto. Aí, perguntou quem era ele e o mesmo lhe falou que era vaqueiro do Capitão Aristides. Lampião disse que tinha uma carta para mandar para ele e redigiu-a ligeiramente para ele trazer aqui, para Itiúba, no mesmo dia, pedindo na mesma:

“Capitão Aristides mande-me três contos de réis de que preciso pagar meus coiteiros. Necessito desse dinheiro. Não bulo com seus animais, nem com suas fazendas, mande hoje mesmo.”E assinou: “Capitão Virgulino, o Lampião”

Aqui chegando, Capitão Aristides, então convocou as autoridades e resolveu armar o povo, inclusive, os negociantes daquela época. Contratou meia dúzia de soldados e determinou a seu vaqueiro que ele não voltasse lá, que ele poderia trucidá-lo. Armaram-se cento e tantos soldados e foram para a trincheira da Calçada de Pedra, para a saída da cidade que vai para Senhor do Bonfim, hoje, Filadélfia. E esses cento e tantos homens armados ficaram em piquetes, nas trincheiras, e sobre aviso, esperando a invasão. Lampião ficou esperando lá e ele não mandou o dinheiro. E o mesmo não veio, nem atacou a cidade.

Ele aí desceu em Dezembro de 1929. Eu era bem menino e vi a hora que chegou o portador na casa do Capitão Aristides. Lampião tentou entrar em Itiúba. Passou pelas cercanias duas vezes. Em 1929, ele desviou e a passagem dele foi para Queimadas. Aquele dia foi trágico. Véspera de Natal. Lampião trucidou sete soldados. Soltou os presos e depois matou um a um. Só deixou um sargento que pediu para ele não matá-lo."

Depois de dois anos, em 1931, ele voltou a passar pelas cercanias da cidade de Itiúba, precisamente, na fazenda Campinhos. Os negociantes e os mais importantes, também os operários, os camponeses, os pequenos comerciantes como Elísio Ferreira, o próprio Aristides, Manoel Pinto, irmão de Belarmino, foram convocados. Se armaram com fuzis, rifles, mosquetão e outras armas. O pai do Joãozinho do Bel foi um dos que se armaram. Suplicio, pai do seu Virgílio, que eram contratados. O comércio local contratava há muitos anos pessoas para enfrentar Lampião. Pagavam-nos por mês. Mandavam buscar homens bravos e destemidos na região de Paulo Afonso, Chorroxó, Campo Formoso, Canudos. Eu mesmo via eles aqui na rua, pra para cima e pra baixo. Os soldados não eram suficientes. Eles e os negociantes se armavam quando diziam:

- Lampião vai passando ou tá próximo em tal lugar... Ribeirão do Pombal... Jaguarari... Cansanção... Os contratados ficavam dia de sábado, domingo, na expectativa de esperar Lampião. (...) Nesse tempo, Itiúba era um arraial e quem administrava era o capitão Aristides e senhor. Belarmino, posteriormente o primeiro prefeito de Itiúba, que eram os encarregados por recomendação de Queimadas, município pelo qual Itiúba dependia. Em 1931, foi quando ele ameaçou mesmo invadir a cidade. Mandou uma carta do Desterro, do outro lado do Jacurici, e, de lá, foi para Queimadas. Ele entrou na área do Município de Itiúba, pelas cercanias de Campinhos, Ariri, até aqui no Umbuzeiro, na Varzinha e Posto do Cachorro.

Como já tinha notícias de que na cidade havia trincheiras à sua espera, aos sábados, ele mandava cabras de seu bando à feira de Itiúba, para sondar se tinha gente armada e se a cidade estava prevenida ou não, para que ele e o seu bando pudessem entrar. Pois o medo dele era encontrar moradores, contratados e os soldados armados esperando por ele e sua corja. Ele encontrou um casamento no caminho. Isso na Varzinha.
Parou o cortejo do casamento e perguntou:
- Vocês vêm de Itiúba?
E o pessoal respondia:
- Venho.
-Você me diga. tem gente armada lá?
- Sim, tem muita gente armada, o pessoal do Belarmino, muita gente contratada, muita gente armada até os dentes, capitão.

Ele olhou a topografia, as montanhas e viu que eram fechadas. Porque a ordem era a seguinte... Combater aqui, dentro no arraial.

Ele parou, conversou ali com os cabras dele:
- Nós não vamos entrar não em Itiúba. Itiubinha... Itiubinha... Dessa vez você escapa...
Aqueles do seu bando que esperavam à sua volta, nas pedreiras das montanhas, espancaram uma velha, saquearam o capitão Antonio Joaquim, avô daquele Mundinho dos Carvalhal. Tomaram dinheiro deles. Mais ou menos uns três ou quatro contos de reis. Mas aqui no arraial ele não entrou. Ficou com medo dos cabras machos que aqui os esperava.”

Tomei outros depoimentos, em Itiúba...

Depoimento que a professora Helena Isaura de Carvalhal, me concedeu, aos 93 anos, em Itiúba, pouco antes de falecer:

“Nós corremos de Lampião até hoje, em nossos sonhos...

Lampião pintava horrores judiando, amarrando as pessoas em pés de mandacaru, matando. E, antes de matar ainda perguntava:
- Como é que você quer morrer? É deitado, sentado, ajoelhado ou em pé?
Contam os mais velhos, que, certa vez, Lampião pediu dinheiro a um jovem casal. Este se negou a dar. Lampião prendeu o marido na cauda de um cavalo e saiu correndo com o animal. A esposa acompanhou correndo até quando encontrou o bando numa fazenda tomando café. O marido continuava amarrado. Ela pediu tanto que ele soltou o homem dizendo:
- Solta esse diabo que parece que é casado de novo!..
Foi no ano de 27 que nós demos a primeira carreira. Eu tinha catorze anos. Vinha a história:
- Vem Lampião! Vem Lampião!

A gente pensava que Lampião vinha. Mas, longe, ele atacou a fazenda Triunfo. Era um lugarejo. No entanto, o medo era tanto que ninguém pensava em nada. Só em correr para escapar da tirania de Lampião e de seu bando. Aristides, parente nosso, tinha uma fazenda chamada Maravilha.

E, aí, um certo dia, ele mandou um vaqueiro que era procurador fazer um serviço lá na fazenda. E lá Zezinho Ferreira, primo de Júlio Ferreira, o vaqueiro contratador, encontrou Lampião que lhe perguntou:
- Quem é você, que vê Lampião e não muda?
Aí, ele disse:
- O Senhor é homem como eu.
Lampião achou isso uma vantagem, então disse:
- Aqui é a fazenda do capitão Aristides?
Zezinho disse:
- Sim.
Lampião perguntou:
- E ele é muito valente?
- É.

Então, Lampião disse:
- Olhe, vou fazer um bilhete.
E fez. No bilhete ele dizia:

Aristides, eu sou o Capitão Virgulino, o Lampião.
Escrevo porque sei que você é muito forte e quero ir aí em Itiúba para lhe encontrar.”


Tentou entrar aqui em Itiúba muitas vezes, mas não conseguiu porque só há três saídas e a cidade é cercada por serras...

O Coronel Aristides Simões de Freitas, homem forte, valente, intendente, recebeu o bilhete de Lampião pedindo que mandasse dois contos de réis. E este destemido mandou dizer que ele viesse buscar. Mas Itiúba era prevenida com homens contratados nas trincheiras das três entradas esperando Lampião. Aristides se preveniu. Mandou chamar o povo do Chorroxó. Eles já tinham feito buracos nas imediações do lugarejo, para esperar Lampião. E, atendendo ao chamado do capitão Aristides, o povo de Chorroxó veio. Eram uns onze homens.

Eu me lembro de um que chamava Luiz. E era bonito e forte. Logo depois, veio esse povo do Virgílio. Aí, Aristides esperou, esperou e ele não veio. Lampião não veio. Só pode ter sido com medo. Nisso, Aristides mandou a resposta do bilhete. Mas, quando o portador lá chegou, ele não estava. Não esperou a resposta de que eles podiam vim. E foram embora. Aristides ficou com esta força de homens armados e com os contratos, guardando a cidade. Tinha uma tropa na estrada de Senhor do Bonfim e outra estação, mas lá muito adiante, quase na fazenda Estado. Só tinham três entradas, e ele, o Lampião, não veio. Fugiu.

Quando foi em outra época, em meados de 1929, ele quis entrar aqui. Chegou até a casa da Fulo, na entrada da Calçada de Pedra, por onde ele tinha que passar para entrar aqui. As tropas continuavam a postos e armadas à espera de Lampião e o seu bando. De repente, ouviu-se um trotar. Era um jumento correndo. Nesse alvoroço, os guardas pensaram que era Lampião, e aí soltaram descargas de tiros. Aí todos responderam e fechou Itiúba de tiros. E todas as outras trincheiras começaram a atirar sendo que estavam avisadas, porque pensaram que os jumentos correndo era a tropa de Lampião. E a gente aqui correu para se esconder.

Mamãe sempre corria. Já era morfina. Vivia com as cobertas no corredor. Quando diziam:
- Olha! Lampião, está perto!
A gente ia se esconder na casa de Sinhá Preta. Mas, com medo dos tiros, corríamos para a Serra dos Macacos, pensando que Lampião tinha chegado. E o povo gritava:
- Lampião chegou!
E lá passamos três dias, porque podia ele chegar. Encontramos uma mulher que vinha com o chinelo na cabeça, e perguntamos:
- O que foi?
Ela disse:
- Já mataram Seu Simão, lá do Tatu, e foram para a casa de dona Amélia, do Castanho.

Eram todos tios nossos. Mamãe chega caiu do susto. Lá dormimos na cama feita de casca de feijão, mas tudo ficou em silêncio. No entanto, mamãe não quis descer. Com três dias depois, teve outro alvoroço, outro tiroteio. Aí fomos pela Fazenda Tapera, por dentro do mato. O mato grande não tinha caminho. A gente ficava cansada, mas tinha que continuar para fugir do tirano Virgulino, vulgo Lampião.

Aí, passaram-se poucos dias e Lampião entrou em Bananeiros. A notícia chegou até aqui pelos telégrafos. Mamãe quase que morre. Estávamos na escola. Nós quase não aprendemos a ler, porque eram só três anos de estudo na escola. Vivíamos fugindo.

O prédio era perto da Estação Ferroviária, local aonde Lampião iria primeiro, para cortar o sino. Porque bater o sino era um dos sinais que avisavam que Lampião estava chegando ou que estava por perto. Fugimos para a casa de Sinhá Preta, onde tinha um caldeirão. Papai dizia:
- Quando tiver tiroteio, vamos nos deitar, todos aqui atrás dessas pedras.

Quando foi um certo dia, no meio da noite, estávamos limpando o tanque da nação e tinha dois bangüês para carregar o barro. Quando nós enxergamos Vovó Iaiá Bebé com os bangüês todos melados de barro. Ela não caminhava. Não era pela idade que ela tinha, mais ou menos oitenta anos. Era porque ela sofria de asma e era murfina. Ficou tropa. Aí Aristides colocou ela dentro do bangüê e mandou entregá-la a papai. Aí foi quando teve outro tiroteio e avisaram que Lampião já estava na casa de Dona Fulo. E teve este tiroteio.

E teve este tiroteio. Nós, então, fomos para a Serra dos Macacos e deixamos vovó na casa de Sinhá Preta, que morava ali perto da Fazenda Umbuzeiro. Foi cômica essa história. Correu todo mundo. Só dois homens não correram, o Pai do Nino Pires e Acelino. Para piorar a situação, nessa noite papai não estava em casa. Tinha ido visitar um compadre e mamãe disse:
- Como é que a gente corre?
Eu só sei que corremos. Corremos nos capinzais adentro. Que fuga louca. Ali era verdadeira luta pela sobrevivência...

Eu sei de tanta coisa.

Uma delas é que meu avô materno contava que Lampião dormiu em sua fazenda, onde foi recebido com maior respeito. O rei do Cangaço abriu as cercas da roça de meu avô e colocou os animais para comer toda plantação. No dia seguinte o cangaceiro deu dinheiro para que fizesse uma nova plantação. Lampião pernoitou na casa de meu pai, e, na hora da janta, tirou uma colher de prata que trazia. Antes de comer colocou a colher na comida para ver se não estava envenenada. Caso a colher ficasse preta era porque havia veneno. Ele tinha vontade entrar na cidade, mas o mesmo temia o Coronel Aristides Simões, que também era conhecido pela sua valentia. Aristides e a população estavam sempre armados à espera do cangaceiro do Nordeste. O Rei do Cangaço estava furioso porque queria roubar o cofre o senhor Belarmino Pinto de Azeredo, que foi o primeiro prefeito de Itiúba, e saquear a feira livre.

Lampião e seu bando chegaram na casa de uma senhora conhecida como Fulô, na zona rural de Itiúba, ameaçando entrar na cidade. Ela disse a Lampião:
- Coronel Lampião, não vá não! Eu sou amiga para lhe dizer que lá tem forças fortes, soldados e homens contratados nas trincheiras.

Desistindo da investida, seguiu para Queimadas. Cortou os fios da estrada de ferro para que ninguém mandasse telegramas avisando que estava chegando. Já em Queimadas foi para o quartel, onde prendeu o sargento e os soldados. Passou a noite dançando. Ao amanhecer o dia, seguiu novamente para o quartel e matou sete soldados, sendo um filho de Itiúba. E assim seguiram viagem para Santa Rosa..."

Depoimento de Maria José de Araújo, de Itiúba:


“Meu Pai foi para roça mais minha Mãe. Aí, o Volta Seca chegou e subiu numa cerca. Aí, o Lampião tava na casa do finado Domingos. Aí, o Rafael, meu irmão que morreu de tosse braba, tinha uns cinco anos e o Marcelino, aquele que tá ali, tava brincando no cercado. E peguei todos dois e botei no quarto e fiquei segurando na mão do outro. E o Lampião chegou e falou:
- Santinha! Não faço nada com você não... Cadê o oro de mamãe?
Eu disse:
- Nós não tem oro.

Ele queria oro. Não era dinheiro não. Minha mãe tinha dois par de argola de oro e duas aliança, uma dela outra do meu pai. Eles foram coisando a casa. Também não ficou nada. Jogaram tudo no chão. Aí ele disse:
- Santinha! Pra onde foi seu pai?
- Meu pai foi pro Cagagaio.

Eu era menina e, pra dizer papagaio, dizia cagagaio. Onde é esse Cagagaio é o Papagaio. Quando meu pai chegou na casa do finado Cecílio, na casa que era do Berilo, já sabia da notícia. Lampião ta aqui no Umbuzeiro.

Chegou aqui numa roça o Lampião. E tinha uma mulher chorando e ele perguntou:
- O que é que tem?
- O cara me botou na rua.

E o Lampião amarrou o cara no cabo do cavalo. E arrastou por cima de pau e de pedra.
- É pra você ter vergonha de não fazer mal as fia aléia.

Eu sei uma música do Lampião:

“Acorda Maria Bunita

torra o teu café”

Lampião ta na revista...
Maria Bonita....
Lampião sé matava delegado, inspetor e os macacos do guverno...

“Acorda Maria Bunita torra o seu café
Lampião ta na revista
Maria Bunita já ta de pé
Faça o favor de perguntar
que me chamo Vergulino
cravo de moça cheirar”


Lampião era muito ruim. Pegou uma véia e deu uma surra. Era a Maria do Rufino, irmã do Felício. Foi nos Picos. Nos Campinhos.
- O que é que você anda fazendo?
Aí, pegou a véia e deu uma surra... Pois foi...”

Depoimento de Isaac Pinto da Silva, de Itiúba.

“Eu num vi ele. Eu não sei quantos era, mas num vieram aqui nessa casa. Aí, eles cortaram por aí e pegaram uns home. Aí, prenderam e levaram com ele, andando, andando. E, quando chegou ali por umas casas aqui mais véia do finado Teodoro, da minha avó. Aí, deixou os home e pegaram um como guia. Aí, pegaro o finado Domingos e levaram. Mas foi ligeiro que eles passaram. Eles foram com o Domingos até a Varzinha pra num perdê. Aí, quando chagou ali na Varzinha, Lampião acendeu umas velas e elas apagaram. Aí eles disseram:
- É... Itiubinha, hoje, num qué nós não...

Da Tapera eles desceram para Camandaroba. Daí foram batê na Queimadas. Chegaram lá de noite. Cortaram o fio do telegrafo. Prenderam os soldado que tinha. Soltaram os presos e deixaram os soldados presos. E dançaram a noite todinha. No outro dia, só era chamando de um e um. E era só atirando e o Volta Seca sangrano. Mataram os sete. A finada Delmira e o finado Baró iam para a Várzea da Roça de tardezinha. O Baró tinha um cavalo e ele levava a mulher na garupa. Quando viram, se toparam de testa. Eles correram.

Tomaram o cavalo. A mulher correu e foi pra debaixo da cama... Quando tinha uma notícia do Lampião, todo mundo corria afobado. A Preta teve filho na serra, no meio do mato.
O Lampião de hoje tá pior. Esses bandidos que estão espaiado no mundo, pra robá, só véve matando e robando.”

Depoimento de Libério Pinto, de Itiúba:

“Aqui ele não fez nada. Saí eu e uma irmã minha. Ele chegou. Abriu a porta. Aí, me puxou assim pelo braço. Botou a gente assim no meio da sala. Aí, quando saíram, minha irmã. Cadê? Foi em 32... Eu tô com 78. Eu tinha uns cinco anos... Até hoje tem o perfume lá no lugar. Mas também quase que não acaba. Ele chegava derramando tudo.”

Depoimento de Agenor Rafael da Silva, então com de 85 anos, de Itiúba:
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“No ano de 1929, morava na fazenda Cajazeiras, no Município de Itiúba... Lampião passou perto de onde eu morava, na fazenda Campinhos, região de Quicé. Lá, entrou em diversas casas. Em uma delas foi na de Joaquim. Nesta casa, ele agrediu o velho Joaquim. Nesse tempo não existia guarda–roupa e Lampião foi até o baú e começou a jogar os panos no chão. Quando Joaquim viu disse:
– O capitão! Não jogue os panos no chão não!
Lampião pegou o fuzil e deu uma pancada na cabeça de Antônio Joaquim. Nesta mesma casa tinha uma moça com o cabelo comprido. E Lampião virou-se para ele e disse:
– Porque não corta o cabelo para ficar bonita?
– Meu pai não gosta que eu corte o cabelo.


Então ele disse:
– Você faz muito bem em não cortar o cabelo. É muito bonito.
A moça estava com umas argolas bonitas e ele quis tirar as argolas das orelhas da moça. E o irmão da moça, por nome João, disse:
– Ô capitão dê licença. Eu tiro as argolas dela e lhe entrego.

Os cangaceiros vasculharam tudo atrás de dinheiro. Acharam o dinheiro escondido dentro de umas cabaças velhas escondidas debaixo de um painel de farinha, pois, naquele tempo não existia banco. Tinha um filho de seu Joaquim casado de novo. A casa dele ficava no terreiro do pai. Uma casa muito bonita, decente e bem construída. Os cangaceiros agarra-no e pediram dinheiro. Ele respondeu que não tinha. Passaram uma corda no pescoço dele para amarrar no cabo do cavalo e arrastar o rapaz. A esposa ficou gritando para soltarem-no que ia buscar o dinheiro. Foi até a casa e pegou quinze contos de réis e deu a Lampião que soltou o rapaz resmungando:
– Não tem dinheiro o quê?! Seu cabra descarado!

Depois desse acontecido, Lampião pediu para colocar um banco no terreiro, perto do cavalo, para ajudá-lo a subir na montaria, pois estava carregado com cartucheiras de bala, fuzil nas costas e aqueles cantis de alumínio, para carregar água. Quando ele saiu da casa de seu Joaquim, a casa ficou cheirando tão mal que tiveram que lavar a casa com água e creolina, pois os homens não tomavam banho, não mudavam de roupa cheia de poeira, sangue de gente e perfume. Lembro-me de tudo. Na época, eu tinha mais ou menos oito anos. Me escondi muito em uma roça, atrás da casa. Um dia, de madrugada, chegou alguém chamando:
- Seu João! Seu João!
Meu pai responde:
- Quem é que fala?
O rapaz respondeu:
- É João Basílio! Venho lhe avisar que Lampião vem aí!
O rapaz morava na fazenda Boa Vista. Dentro de casa, todo mundo ficou alvoroçado. Minha avó era uma mulher de uns oitenta anos e meu pai disse:
- Levanta que é pra gente correr.
– Eu não vou não. O que é que o Lampião quer comigo?
– Não, senhora! Levante e vamos embora!


Só se via gente pegar coberta. Esteira de baixo do braço. Os cachorros, amarramos a boca para não latir. Para encurtar a história, ficamos uns três dias no mato. Soubemos que ele estava em Queimadas. Voltamos para casa. O povo contava que Lampião andava com uma agenda com o nome dos fazendeiros. Quando ele passou por lá, nessa época, andava com um guia. E ele perguntava para o rapaz:
- Onde é a fazenda do Zuza da Cajazeira?
Esse Zuza era meu tio e o rapaz que andava guiando-os respondeu:
- Ah, Capitão. Já ficou muito para trás.
– E onde fica a fazenda de João Rafael?
– Ah, Capitão. Também ficou muito para trás.
– E a fazenda de Antônio Rafael?
– Ah, Capitão. Ficou muito para trás.
– Não tem nada não. Na volta, a gente passa lá...


Esses três eram irmãos. Por causa dessa conversa que meu tio soube, largou a casa muito boa e passou seis meses no mato, num rancho de palha com medo. De vez em quando, mandava um menino ir olhar lá na fazenda, se não tinha rastro de cavalo.

Depois que Lampião desceu da fazenda Campinhos, passou perto de Cajazeiras, da Fazenda Barras, no sopé da Serra do Souza. Ele foi para a Varzinha. Disseram que mandou um dos bandidos pesquisar Itiúba, mas, naquela época, estava cheio de homens. Onde tem o posto do Jackson era um grande pé de juazeiro cheio de dormentes, aqueles troncos usados na linha férrea. Ali, tinha mais de um homem armado esperando Lampião. Dizem que o bandido retornou e disse para Lampião que a cidade estava cercada e não dava para entrar, pois, se entrassem, morriam. Além dos soldados que aqui existiam, vinham pessoas de outros lugares, que o Coronel Aristides Simões mandava buscar, para reforçar a cidade. Essas pessoas eram chamadas de “contratados”. Eu sei que vieram algumas pessoas de Formosa, perto do Chorroxó, como Simplício e Berto. Capitão Aristides apoiou-os, pois viu que eram homens dispostos. Aqui ficaram e constituíram família.”

Depoimento de Isabel, do Maté, de Itiúba.

“Quando Lampião chegou no Maté foi com uma turma. Vinham montados e na carreira. Estavam sentados fora da casa do Teófilo e Piroca. Eles levantaram para correr e Lampião falou:
- Não corra! Senão eu atiro!
Perguntou ao Teófilo pelas montadas que tinha e ele respondeu:
- Só tenho umas é-é-é-guas.
Eles arremedaram Teófilo:
- Umas é-é-é-guas.

Lampião pediu água para beber a Joaquina, que estava mexendo uma comida no fogo, em uma cozinha que ficava fora da casa. Mas ela demorou para pegar a água, porque estava nervosa e trêmula. Mas ele achou que ela tinha colocado porcaria na água, e não bebeu. E jogou fora. Lampião perguntou a Joaquina o que tinha no fogo. E ela respondeu:
– Uma comida para uma doente.
Lampião arremedou-a e repetiu o que ela falou, pois Joaquina falava um pouco fanhosa.
A passagem dele no Maté já foi à noite. Ele já estava vindo da Varzinha e foi nessa passagem que ele entrou na casa de Mariinha e deu umas chibatadas nela. Dizem que ela também era gaga e quando Lampião lhe batia, ela dizia:
- Ba-ba-te, diabo!
O povo disse que ele já vinha do Umbuzeiro. Existia muita mentira. Uma época disseram que ele estava atacando Itiúba e estava uma guerra danada.

Diziam que Lampião não fazia muita perversidade. Perversos eram os seus cangaceiros. Há uma história que ele chegou em uma casa ai pra cima. Tinha alguém assobiando e Lampião colocou a pessoa para assobiar a noite inteira para os cangaceiros dançar. Quando amanheceu a pessoa estava com a boca inchada...
Em uma casa, para o lado da Pedra Vermelha, município de Cansanção, pediu para a mulher cozinhar umas galinhas para eles comer. Enquanto comiam, um dos cangaceiros reclamou que a comida estava sem sal. Lampião pediu à mulher que trouxesse um quilo de sal e fez o cabra comer todo.”


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Bahia

(AULA IV) Lampião na Bahia

Lampião na Bahia

por Matheus Ferreira

Os constantes ataques sofridos, as baixas que ocorreram no bando e principalmente a necessidade de sobrevivência fizeram com que Lampião atravessasse o "Velho Chico" e viesse introduzir o Cangaço lampirônico nas terras da Bahia e Sergipe. O bando que antes era composto por diversos membros se fragmenta em pequenos, cada um por sua vez com a sua liderança,das divisões ocorridas, um grupo ficou sob o comando de Corisco, outro por Zé Sereno, enfim...Lampião atravessa o rio São Franciso e vem parar em terras baianas. Cansados e com muita fome Lampião e seus homens não vieram afim de arruaça, nem de guerra, estavam talvez exaustos dos inúmeros conflitos ocorridos nos sertões de Pernambuco. Segundo Oleone Coelho Fontes, no seu livro Lampião na Bahia, afirma que Lampião quando chega na Bahia visita os coronéis proprietários de terras e as pequenas cidades, é muito bem recebido, afinal, sua fama já corria por todos os cantos do Nordeste, e até poupar a vida dos policiais que guarneciam as cidades ele poupou. Durante um tempo, a paz existiu, Lampião organizava festas, dançava o xaxado, almoçava com as autoridades, tirava fotos e realmente atraía a atenção de todos por onde passava, seu uniforme, os embornais enfeitados o chapéu em forma de meia lua, os longos punhais, os estampados lenços de seda, os fuzis, atraíam a atenção de todos e fazia a alegria da meninada. Depois de certo tempo que não durou muito, as volantes baianas organizam uma emboscada, no intuito talvez de se destacar ao prender um dos bandidos mais procurados do país. Na tentativa frustada, são surpreendidos pela enorme experiência e qualidade quando se tratava de guerrilha nos sertões do Nordeste, e aquele homem que antes era tido como uma "lenda viva", agora se tornava um dos inimigos mais temíveis que a Bahia conheceu, inicia-se assim, os ataques, os assassinatos brutais, os estupros e a impunidade, porque a falta de experiência das volantes baianas no combate ao cangaço era tão grande que permitia que Lampião ditasse as regras do jogo como exemplo o massacre ocorrido no município de Queimadas, a 300km da capital baiana. Para melhor combater o cangaço, a polícia baiana se viu na necessidade de buscar a ajuda de quem a tempos conhecia o problema, a polícia pernambucana, apartir daí...é modificado desde comandantes antigos até o uniforme utilizado pelas volantes que por sinal se torna bastante similar ao dos cangaceiros, como já era utilizado em Pernambuco dificultando o reconhecimento das pessoas, há quem diga que durante as perseguições as volantes se comportaram tão quanto ou pior do que os cangaceiros, e quem realmente estava sendo prejudicado eram os pobres sertanejos que se viram no meio de um fogo cruzado, de uma terra sem leis, que podemos chamar de Nordeste do Cangaço.




quarta-feira, 30 de junho de 2010

(AULA III) A origem das Volantes

CORONEL MANOEL NETO - INTRÉPIDO COMBATENTE DA FORÇA DAS VOLANTES

As Volantes


por Carlos Jatobá


Após a difícil, constrangedora e impopular campanha de Canudos, o Exército regular não poderia mais vê-se em embates de natureza policial. Contudo, ainda era maciçamente empregado - por não existir uma força policial federal à época - em ações típicas dessa força. Isto, além de afastar-lhe de sua função constitucional precípua: a defesa territorial contra ataques de natureza externa, enfraquecia-lhe pela falta de treinamento específico, desviando-lhe da proximidade e do avanço tecnológico-bélico-militar de então; contido na chamada política de "paz armada" européia.

Surgindo ante os fatos, a insatisfação da tropa e a recusa para tais ações subalternas. Pois, segundo Mello "a verdade era que as forças iam atuar dentro do país com desvantagens imensas, maiores do que se o fossem em país estrangeiro, principalmente no que se refere à espionagem; mais eficiente, esta, e perigosa no sertão de Canudos, porque inidentificável na confusão e na confiança de serem todos brasileiros. (...) O Exército ia operar, prejudicado pelo mais temível corpo de espionagem, com que se pode contar (espiões compatrícios) sem que dispusesse de um outro para contaminar a ação nefasta do primeiro." (1958 p. 79-80)

O Exército, ainda, sob o "diáfano" manto da doutrina positivista era um verdadeiro "exército de papel". Porém, com a campanha cívico-patriótica bilaqueana pela escola popular e pelo serviço militar obrigatório (em 1915) e a desativação definitiva da Guarda Nacional (em 1918), abriu-se um novo horizonte para a Corporação e houve - então - um absoluto controle militar interno, desarmando-se as oligarquias coronelistas locais.

Trevisan, nos lega que com "a chegada da Missão Militar Francesa, em 1920, completa-se o quadro das mudanças internas da instituição. Começava a delinear-se as mudanças externas , fruto das alterações até então técnicas da instituição militar". (1987 p. 50)

Por outro lado, os governos estaduais nordestinos, vendo-se agravar o banditismo nas regiões interioranas do agreste e do sertão, viram-se na contingência de criar forças policiais-militares de emprego rápido e que teriam - inclusive - nativos recrutados dessas regiões. Surgindo daí as verdadeiras volantes que eram grupamentos, destacamentos ou patrulhas tático-móveis, compostas essencialmente por militares (policiais das Forças Públicas estaduais ou militares do Exército nacional, devidamente comissionados para este fim), comandadas - preferencialmente - por um oficial (tenente ou capitão). A esse respeito, Rangel de Farias alude que "era muito comum acontecer que os oficiais do Exército, quando chamados a comandar polícias, trouxessem a idéia de que as mencionadas corporações fossem compostas por uma maioria de homens ignorantes e indisciplinados" (1995 p. 8)

Recrutados - entre os etno-nativos da região: curibocas, mulatos e cafusos - esses grupos de policiais-militares, percorriam equipados e a pé, grandes distâncias em perseguição aos malfazejos foras-da-lei, muitas vezes, mantendo um combate desigual, pois os chamados cangaceiros estavam melhor municiados, com armamento mais moderno e em melhores condições, diante das facilidades que estes tinham em conseguir recursos e alimentos, bastando para isso mandar pedir um salvador "óbolo", através de bilhetes a qualquer fazendeiro ou político. Estes, para não enfrentarem a ira daqueles facínoras - que com uma possível recusa, estariam na mira de uma próxima incursão, com a visita indesejada, inesperada, desmoralizante e de funestas conseqüências - viam-se, forçados a atendê-los em todas as suas "justas" demandas.

A bem da verdade, devemos colocar que algumas forças denominadas "volantes", se utilizavam dos mesmos métodos que os cangaceiros. A esse respeito Torres, observa que "tardiamente, a polícia se organizava em volantes , com o mesmo jeito dos facínoras, tomando também dinheiro dos coronéis e demonstrando, com forrós e alegria, quando um combate os afastava para as brenhas." (1994 p. 47) Já Carvalho nos passa que "eram inomináveis as violências e arbitrariedades praticadas pelas forças volantes que transitavam pelo interior dos Estados, contra os direitos dos particulares. (...) Qualquer futilidade servia de pretexto para esculachos desumanos. (...) A integridade física e moral dos sertanejos não existia para aqueles que por dever de ofício estão na obrigação de respeitar e proteger." (1974 p. 91)

Ferraz, com muita propriedade, atesta que, quando vindo ocasionalmente da capital, as verdadeiras forças volantes "encontravam, apesar de seus esforços, grandes dificuldades no desempenho de sua missão: a primeira delas era constituída pela imensidão da caatinga desconhecida e habitada por uma população reduzida, emudecida e temerosa de represálias. (...) Era a velha história: as forças volantes chegavam e partiam mas os cangaceiros permaneciam para a cobrança." (1985 - p. 221)

Por este fato, lembra-nos Britto que "a polícia se via na necessidade de alargar a sua área de ação e não ficar limitada a seu território jurisdicional, porque os bandidos circulavam agilmente entre os Estados, forçando as volantes que os perseguiam a se conter nas fronteiras, cabendo à volante de outros Estados, a dar continuidade a perseguição, fato este que face a dificuldade de comunicação da época, favorecia sobremaneira aos grupos, a evadir-se, dificultando com isto a sua captura. Forçados por esta situação, os Estados vieram a formalizar tratados que permitiam as forças volantes a se deslocarem transpondo as fronteiras sem prévia solicitação, favorecendo com isso um combate mais intenso e eficaz. Estas enfrentavam um complexo e desfavorável sistema para o desenvolvimento das suas ações. Os meios de comunicação eram precários, (...) as volantes não tinham destino certo, uma vez que podiam mudar de itinerário a qualquer momento, bastando para isso achar indícios de bandidos e seguir o rastro, uma informação de um vaqueiro ou coiteiro, ou mesmo o ataque de bandidos a uma localidade, ou a
mais cruel das informações que seria a emboscada da volante, quase sempre em terreno desfavorável a mesma." (2000 p. 19-20)

As volantes, já estruturadas nos idos de 1920, se especializaram no combate ao cangaceirismo em suas mais diversas caras. Sobreviviam com parcos recursos governamentais, com armamento e municiamento, na maioria das vezes bem mais antigo que o dos cangaceiros e conseqüentemente, menos eficazes. Se deslocavam em marchas incertas, rastejando pistas e levantando indícios nas caatingas, portanto fadadas a ficarem muitas vezes cobertas por andrajos, sem água e mantimentos ou bebendo água contaminada, imprópria ao consumo, se alimentando e dormindo mal, ao relento e durante o dia expostas a um sol abrasador e uma vegetação inóspita, formada por facheiros, macambiras, xique-xiques, alastrados, urtigas, unhas-de-gato, rabos-de-raposa, coroas-de-frade, mandacarus, caroás e quipás, em alguns casos intransponíveis. Expostos, em conseqüência do que lhes era imposto por um dever de profissão, a males como: úlcera nos pés, espinhos, cortes, infecções, disenteria, dor de dente, astenia, dores musculares, desidratação, impaludismo, ferimentos a bala, varíola e a tuberculose.

Porém, Bezerra observa que, a despeito de todos os revezes e, "com o enfraquecimento do prestígio da política pela aparição do Estado Novo, os oficiais comandantes de volantes , iniciaram uma ação menos tímida, prendendo os tais vaqueiros [coiteiros, que davam guarida aos cangaceiros], conduzindo-os à presença dos seus coronéis , fazendo entre todos uma meticulosa acareação e, de acordo com o apurado, sem mais consultas, levando-os à presença das autoridades da Capital. Daí, salva a responsabilidade do oficial, com a resolução das autoridades superiores sobre o caso, fica o oficial prestigiado e com a sua moral intacta, muito embora depois venha a perder, por ter ficado mal visto pelos admiradores do chefão [verdadeiro senhor feudal] ". (1940 p. 7)

Portanto, ainda no dizer de Britto, "sem a dedicação e a bravura desses valorosos militares esse mal teria se alastrado, ceifando mais vidas inocentes, não merecendo ficar no obscurantismo ou em plano inferior aquele que é destinado aos benfeitores ou heróis." (2000 p. 21)




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


MELLO, Dante de. A verdade sobre "Os Sertões":
Análise reivindicatória da campanha de Canudos.
Rio de Janeiro : BExE, 1958.

TREVISAN, Leonardo. Instituição militar e estado brasileiro.
[O que todo cidadão precisa saber sobre]
São Paulo : Global, 1987.

RANGEL DE FARIAS, Edésio. Cangaço e polícia:
Fatos e feitos paraibanos.
Recife : REPROART, 1995.

TORRES, Luiz W. Lampião e o cangaço.
São Paulo : EDICON, 1994.

CARVALHO, Rodrigues de. Serrote Preto:
Lampião e seus sequazes.
Rio de Janeiro : SEDEGRA, 1974.

FERRAZ, Marilourdes. O Canto do acauã.
Recife : Rodovalho, 1985.

BRITTO, Paulo. O cangaço e as volantes:
Lampião e Tenente Bezerra.
Recife : Do Autor, 2000.

BEZERRA, João (Cap). Como dei cabo de Lampeão.
Rio de Janeiro : Do Autor, 1940 1ª ed.

BRITTO, Paulo. Op. cit.