quarta-feira, 30 de junho de 2010

(AULA III) A origem das Volantes

CORONEL MANOEL NETO - INTRÉPIDO COMBATENTE DA FORÇA DAS VOLANTES

As Volantes


por Carlos Jatobá


Após a difícil, constrangedora e impopular campanha de Canudos, o Exército regular não poderia mais vê-se em embates de natureza policial. Contudo, ainda era maciçamente empregado - por não existir uma força policial federal à época - em ações típicas dessa força. Isto, além de afastar-lhe de sua função constitucional precípua: a defesa territorial contra ataques de natureza externa, enfraquecia-lhe pela falta de treinamento específico, desviando-lhe da proximidade e do avanço tecnológico-bélico-militar de então; contido na chamada política de "paz armada" européia.

Surgindo ante os fatos, a insatisfação da tropa e a recusa para tais ações subalternas. Pois, segundo Mello "a verdade era que as forças iam atuar dentro do país com desvantagens imensas, maiores do que se o fossem em país estrangeiro, principalmente no que se refere à espionagem; mais eficiente, esta, e perigosa no sertão de Canudos, porque inidentificável na confusão e na confiança de serem todos brasileiros. (...) O Exército ia operar, prejudicado pelo mais temível corpo de espionagem, com que se pode contar (espiões compatrícios) sem que dispusesse de um outro para contaminar a ação nefasta do primeiro." (1958 p. 79-80)

O Exército, ainda, sob o "diáfano" manto da doutrina positivista era um verdadeiro "exército de papel". Porém, com a campanha cívico-patriótica bilaqueana pela escola popular e pelo serviço militar obrigatório (em 1915) e a desativação definitiva da Guarda Nacional (em 1918), abriu-se um novo horizonte para a Corporação e houve - então - um absoluto controle militar interno, desarmando-se as oligarquias coronelistas locais.

Trevisan, nos lega que com "a chegada da Missão Militar Francesa, em 1920, completa-se o quadro das mudanças internas da instituição. Começava a delinear-se as mudanças externas , fruto das alterações até então técnicas da instituição militar". (1987 p. 50)

Por outro lado, os governos estaduais nordestinos, vendo-se agravar o banditismo nas regiões interioranas do agreste e do sertão, viram-se na contingência de criar forças policiais-militares de emprego rápido e que teriam - inclusive - nativos recrutados dessas regiões. Surgindo daí as verdadeiras volantes que eram grupamentos, destacamentos ou patrulhas tático-móveis, compostas essencialmente por militares (policiais das Forças Públicas estaduais ou militares do Exército nacional, devidamente comissionados para este fim), comandadas - preferencialmente - por um oficial (tenente ou capitão). A esse respeito, Rangel de Farias alude que "era muito comum acontecer que os oficiais do Exército, quando chamados a comandar polícias, trouxessem a idéia de que as mencionadas corporações fossem compostas por uma maioria de homens ignorantes e indisciplinados" (1995 p. 8)

Recrutados - entre os etno-nativos da região: curibocas, mulatos e cafusos - esses grupos de policiais-militares, percorriam equipados e a pé, grandes distâncias em perseguição aos malfazejos foras-da-lei, muitas vezes, mantendo um combate desigual, pois os chamados cangaceiros estavam melhor municiados, com armamento mais moderno e em melhores condições, diante das facilidades que estes tinham em conseguir recursos e alimentos, bastando para isso mandar pedir um salvador "óbolo", através de bilhetes a qualquer fazendeiro ou político. Estes, para não enfrentarem a ira daqueles facínoras - que com uma possível recusa, estariam na mira de uma próxima incursão, com a visita indesejada, inesperada, desmoralizante e de funestas conseqüências - viam-se, forçados a atendê-los em todas as suas "justas" demandas.

A bem da verdade, devemos colocar que algumas forças denominadas "volantes", se utilizavam dos mesmos métodos que os cangaceiros. A esse respeito Torres, observa que "tardiamente, a polícia se organizava em volantes , com o mesmo jeito dos facínoras, tomando também dinheiro dos coronéis e demonstrando, com forrós e alegria, quando um combate os afastava para as brenhas." (1994 p. 47) Já Carvalho nos passa que "eram inomináveis as violências e arbitrariedades praticadas pelas forças volantes que transitavam pelo interior dos Estados, contra os direitos dos particulares. (...) Qualquer futilidade servia de pretexto para esculachos desumanos. (...) A integridade física e moral dos sertanejos não existia para aqueles que por dever de ofício estão na obrigação de respeitar e proteger." (1974 p. 91)

Ferraz, com muita propriedade, atesta que, quando vindo ocasionalmente da capital, as verdadeiras forças volantes "encontravam, apesar de seus esforços, grandes dificuldades no desempenho de sua missão: a primeira delas era constituída pela imensidão da caatinga desconhecida e habitada por uma população reduzida, emudecida e temerosa de represálias. (...) Era a velha história: as forças volantes chegavam e partiam mas os cangaceiros permaneciam para a cobrança." (1985 - p. 221)

Por este fato, lembra-nos Britto que "a polícia se via na necessidade de alargar a sua área de ação e não ficar limitada a seu território jurisdicional, porque os bandidos circulavam agilmente entre os Estados, forçando as volantes que os perseguiam a se conter nas fronteiras, cabendo à volante de outros Estados, a dar continuidade a perseguição, fato este que face a dificuldade de comunicação da época, favorecia sobremaneira aos grupos, a evadir-se, dificultando com isto a sua captura. Forçados por esta situação, os Estados vieram a formalizar tratados que permitiam as forças volantes a se deslocarem transpondo as fronteiras sem prévia solicitação, favorecendo com isso um combate mais intenso e eficaz. Estas enfrentavam um complexo e desfavorável sistema para o desenvolvimento das suas ações. Os meios de comunicação eram precários, (...) as volantes não tinham destino certo, uma vez que podiam mudar de itinerário a qualquer momento, bastando para isso achar indícios de bandidos e seguir o rastro, uma informação de um vaqueiro ou coiteiro, ou mesmo o ataque de bandidos a uma localidade, ou a
mais cruel das informações que seria a emboscada da volante, quase sempre em terreno desfavorável a mesma." (2000 p. 19-20)

As volantes, já estruturadas nos idos de 1920, se especializaram no combate ao cangaceirismo em suas mais diversas caras. Sobreviviam com parcos recursos governamentais, com armamento e municiamento, na maioria das vezes bem mais antigo que o dos cangaceiros e conseqüentemente, menos eficazes. Se deslocavam em marchas incertas, rastejando pistas e levantando indícios nas caatingas, portanto fadadas a ficarem muitas vezes cobertas por andrajos, sem água e mantimentos ou bebendo água contaminada, imprópria ao consumo, se alimentando e dormindo mal, ao relento e durante o dia expostas a um sol abrasador e uma vegetação inóspita, formada por facheiros, macambiras, xique-xiques, alastrados, urtigas, unhas-de-gato, rabos-de-raposa, coroas-de-frade, mandacarus, caroás e quipás, em alguns casos intransponíveis. Expostos, em conseqüência do que lhes era imposto por um dever de profissão, a males como: úlcera nos pés, espinhos, cortes, infecções, disenteria, dor de dente, astenia, dores musculares, desidratação, impaludismo, ferimentos a bala, varíola e a tuberculose.

Porém, Bezerra observa que, a despeito de todos os revezes e, "com o enfraquecimento do prestígio da política pela aparição do Estado Novo, os oficiais comandantes de volantes , iniciaram uma ação menos tímida, prendendo os tais vaqueiros [coiteiros, que davam guarida aos cangaceiros], conduzindo-os à presença dos seus coronéis , fazendo entre todos uma meticulosa acareação e, de acordo com o apurado, sem mais consultas, levando-os à presença das autoridades da Capital. Daí, salva a responsabilidade do oficial, com a resolução das autoridades superiores sobre o caso, fica o oficial prestigiado e com a sua moral intacta, muito embora depois venha a perder, por ter ficado mal visto pelos admiradores do chefão [verdadeiro senhor feudal] ". (1940 p. 7)

Portanto, ainda no dizer de Britto, "sem a dedicação e a bravura desses valorosos militares esse mal teria se alastrado, ceifando mais vidas inocentes, não merecendo ficar no obscurantismo ou em plano inferior aquele que é destinado aos benfeitores ou heróis." (2000 p. 21)




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


MELLO, Dante de. A verdade sobre "Os Sertões":
Análise reivindicatória da campanha de Canudos.
Rio de Janeiro : BExE, 1958.

TREVISAN, Leonardo. Instituição militar e estado brasileiro.
[O que todo cidadão precisa saber sobre]
São Paulo : Global, 1987.

RANGEL DE FARIAS, Edésio. Cangaço e polícia:
Fatos e feitos paraibanos.
Recife : REPROART, 1995.

TORRES, Luiz W. Lampião e o cangaço.
São Paulo : EDICON, 1994.

CARVALHO, Rodrigues de. Serrote Preto:
Lampião e seus sequazes.
Rio de Janeiro : SEDEGRA, 1974.

FERRAZ, Marilourdes. O Canto do acauã.
Recife : Rodovalho, 1985.

BRITTO, Paulo. O cangaço e as volantes:
Lampião e Tenente Bezerra.
Recife : Do Autor, 2000.

BEZERRA, João (Cap). Como dei cabo de Lampeão.
Rio de Janeiro : Do Autor, 1940 1ª ed.

BRITTO, Paulo. Op. cit.



(AULA II) Cronologia do Cangaço


VIRGULINO FERREIRA DA SILVA


LAMPIÃO EM DATAS

7 de julho de 1897
: Nasce Virgolino Ferreira da Silva, em Vila Bella, atual Serra Talhada - PE., Filho de José Ferreira e Maria Sulena da Purificação.

1905 : Faz a primeira Comunhão, na vila São Francisco.
1909 : Já trabalhava na agricultura. Vindo a ser almocreve, feirante, artesão e vaqueiro.
1912 : Foi crismado, também na vila São Francisco.
1916 : Começa a rixa com Zé Saturnino.

  • Vota pra prefeito em Mário Lira.
  • Primeiro confronto armado entre os Ferreira e Zé Saturnino com sua gente.

1920 : Morre sua mãe. Seu pai é assassinado.

  • Virgolino assume a condição de cangaceiro para vingar seu pai.
  • Entra no bando de Sinhô Pereira e Luís Padre, onde se revela um líder nato.

1921 : Lampião e o bando cerca a casa de Zé Saturnino - seu primeiro inimigo -na fazenda Pedreira, quando a mãe do mesmo intercede em favor do filho, pedindo que o cangaceiro poupe sua vida.
1922 : Lampião recebe de Sinhô Pereira a chefia do grupo.

  • Os cangaceiros invadem São José do Belmonte e matam Gonzaga.
  • Lampião ataca a baronesa de Água Branca, em Alagoas.

31 de julho de 1923 : Casamento de Maria Licor Ferreira de Lima com Enoque Menezes. È quando acontece a última entrada de Lampião em Nazaré.

1924 : Lampião mata o cangaceiro Nêgo Tibúrcio e seu grupo, em Santa Maria , atual Tupanací (Mirandiba).
Fogo das Baixas, entre Lampião e os Nazarenos
Morre o cangaceiro Antonio Rosa.
Lampião é baleado no pé, na Serra do Catolé, em Vila Bella. Em função do ferimento, entra em depressão e pensa em entregar-se à justiça.
Antonio Ferreira ataca a cidade de Sousa, no sertão da Paraíba.
Morre o cangaceiro Meia Noite.

1925 : Morre Livino Ferreira.
Lampião e o bando visitam pacificamente a cidade de Custódia.
1926 : Recebe do Padre Cícero a Patente de Capitão do Exército Patriótico.

  • Combate da Serra Grande, em Pernambuco.
  • Fogo no Jacaré.
  • Morre Antônio Ferreira.
  • Sabino ataca a cidade Triunfo.
  • Assassinam José Nogueira.
  • É construída uma nova cadeia em Vila Bella pra prender Lampião.

1927 : O cangaceiro Jararaca à frente de um grupo invade Carnaíba, em Pernambuco.

  • Zabelê é preso em Vila Bella.
  • Com vários outros grupos de cangaceiros, ataca a cidade potiguar Mossoró.

1928 : Devido a violenta perseguição Lampião atravessa o Rio São Francisco e o cangaço lampiônico é introduzido na Bahia e Sergipe.

  • Morre Sabino das Abóboras.

01 de março de 1929 : Lampião entra pela primeira vez em Carira.
25 de novembro de 1929 : Lampião visita Capela.
22 de dezembro de 1929 : Lampião e seu bando promovem uma chacina em Queimadas (Bahia) e fazem presepadas em outras cidades e fazendas arredores.
1930 : Ano da Revolução. Tem-se uma certa trégua entre cangaceiros e volantes.

  • Entra a primeira mulher no cangaço, Maria Bonita.
1932 : Morre Ezequiel Ferreira.
28 de julho de 1938 : Lampião, Maria Bonita e mais nove companheiros foram massacrados na fazenda Angicos, no sertão do estado de Sergipe.
25 de maio de 1940 : A volante de Zé Rufino assassina Curisco, na fazenda Cavaco, em Brotas de Macaúbas, Bahia


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sábado, 12 de junho de 2010

(AULA I) Introdução

Cangaço

Foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.

O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os "políticos", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo.

Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.

O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de1870. E o último foi de "Corisco" (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.

O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o lampião denominado o "Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro.

Por parte das autoridades Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra.

O cangaço teve o seu fim a partir da decisão do Presidente da República, Getúlio Vargas de eliminar todos e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem.

No dia 28 de Julho de 1938 na localidade de Angicos, no estado de Sergipe, Lampião finalmente foi apanhado em uma emboscada das autoridades, onde foi morto junto com sua mulher, Maria Bonita e mais nove cangaceiros.

Esta data veio a marcar o final do cangaço pois a partir da repercussão da morte de Lampião os chefes dos outros bandos existentes no nordeste brasileiro vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Canga%C3%A7o